INVESTIGANDO OS CANCIONEIROS MEDIEVAIS
STEMMA – Do canto à escrita – produção material e percursos da lírica galego-portuguesa
O que foi o STEMMA?
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) de 2018 a 2022, o projeto Stemma foi uma investigação pluridisciplinar em torno dos manuscritos que nos transmitiram as cantigas dos trovadores e jograis galego-portugueses. Embora o projeto em si tenha acabado, a investigação continua.
Qual foi o ponto de partida?
A importância histórica e cultural dos manuscritos trovadorescos, nomeadamente dos três grandes cancioneiros e alguns fragmentos que chegaram aos nossos dias, contrasta fortemente com as lacunas que subsistem no que diz respeito a quase todos os aspetos da sua produção, transmissão e percurso posterior. Através de uma abordagem inovadora e multidisciplinar, que incluiu análises moleculares das iluminuras e tintas de escrita, bem como análises internas de todos os testemunhos e pesquisas sistemáticas em arquivos e bibliotecas (com destaque para as figuras de Angelo Colocci e de D. Miguel da Silva, bispo de Viseu), o objetivo deste projeto foi, pois, o de preencher essas lacunas.
Quais os resultados esperados e obtidos?
Na fase final do projeto, e a partir dos dados recolhidos, esperávamos poder compreender melhor tanto os parâmetros da passagem do canto trovadoresco ibérico à escrita (agentes, datas, locais), como o desconhecido percurso posterior dos manuscritos (incluindo os desaparecidos), nomeadamente o papel que neste stemma desempenharam importantes figuras do humanismo renascentista português e europeu.
Os resultados obtidos serão divulgados em breve.
O que trouxe esta equipa de novo?
A equipa que reuniu investigadores altamente especializados em análise laboratorial de manuscritos iluminados (com ênfase na análise molecular da cor e dos pigmentos) e alguns dos melhores investigadores das áreas da literatura e arte medievais, equipa essa cujos IR e co-IR têm já experiência em trabalho conjunto. Nesta medida, a abordagem que foi feita ao Cancioneiro da Ajuda, unindo as chamadas ciências exatas às humanidades, não tem paralelo com qualquer outro realizado até agora, tanto a nível europeu como mundial.
Igualmente inovadora foi a outra vertente do nosso trabalho, a que diz respeito às cópias italianas mandadas executar por Angelo Colocci, já que o papel desempenhado pelos humanistas do Renascimento, nomeadamente os portugueses, na preservação da obra dos trovadores medievais é matéria tão central quanto esquecida, constituindo um vasto campo inexplorado, cujos segredos esta equipa se esforçou por começar a desvendar.