INÍCIO2022-12-14T19:10:17+00:00

INVESTIGANDO OS CANCIONEIROS MEDIEVAIS

STEMMA – Do canto à escrita –  produção material e percursos da lírica galego-portuguesa

O que foi o STEMMA?

Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) de 2018 a 2022, o projeto Stemma foi uma investigação pluridisciplinar em torno dos manuscritos que nos transmitiram as cantigas dos trovadores e jograis galego-portugueses. Embora o projeto em si tenha acabado, a investigação continua.

Qual foi o ponto de partida?

A importância histórica e cultural dos manuscritos trovadorescos, nomeadamente dos três grandes cancioneiros e alguns fragmentos que chegaram aos nossos dias, contrasta fortemente com as lacunas que subsistem no que diz respeito a quase todos os aspetos da sua produção, transmissão e percurso posterior. Através de uma abordagem inovadora e multidisciplinar, que incluiu análises moleculares das iluminuras e tintas de escrita, bem como análises internas de todos os testemunhos e pesquisas sistemáticas em arquivos e bibliotecas (com destaque para as figuras de Angelo Colocci e de D. Miguel da Silva, bispo de Viseu), o objetivo deste projeto foi, pois, o de preencher essas lacunas. 

São cinco os principais testemunhos escritos da lírica medieval galego-portuguesa que chegaram até nós: três cancioneiros – o Cancioneiro da Ajuda (A), códice medieval ricamente iluminado mas inacabado, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, B, e o Cancioneiro da Vaticana, V, ambos cópias italianas do século XVI de um grande cancioneiro medieval desaparecido – e ainda dois fragmentos, o Pergaminho Vindel (N) e o Pergaminho Sharrer (T), ambos um único folio. O estudo que nos propusemos fazer juntou:

1) no que toca a A, análises moleculares das iluminuras e tintas de escrita, complementadas por análises do mesmo tipo a serem realizadas em manuscritos ibéricos semelhantes (como as Cantigas de Santa Maria) com vista a elucidar aspetos essenciais mas ainda desconhecidos do códice, como a sua datação, condições e provável espaço de confeção, ou o seu percurso posterior;
2) em relação às cópias italianas, recolha de todas as pistas que pudessem fornecer informação sobre o manuscrito original, tanto internas (análises detalhadas da execução das cópias), como externas (pesquisas sistemáticas em arquivos e bibliotecas, com destaque para as figuras de Angelo Colocci, o mandatário das cópias, e de D. Miguel da Silva, bispo de Viseu, o plausível detentor do cancioneiro original, e cujo espólio permanece em grande parte inédito).

Quais os resultados esperados e obtidos?

Na fase final do projeto, e a partir dos dados recolhidos, esperávamos poder compreender melhor tanto os parâmetros da passagem do canto trovadoresco ibérico à escrita (agentes, datas, locais), como o desconhecido percurso posterior dos manuscritos (incluindo os desaparecidos), nomeadamente o papel que neste stemma desempenharam importantes figuras do humanismo renascentista português e europeu.
Os resultados obtidos serão divulgados em breve.

O que trouxe esta equipa de novo?

A equipa que reuniu investigadores altamente especializados em análise laboratorial de manuscritos iluminados (com ênfase na análise molecular da cor e dos pigmentos) e alguns dos melhores investigadores das áreas da literatura e arte medievais, equipa essa cujos IR e co-IR têm já experiência em trabalho conjunto. Nesta medida, a abordagem que foi feita ao Cancioneiro da Ajuda, unindo as chamadas ciências exatas às humanidades, não tem paralelo com qualquer outro realizado até agora, tanto a nível europeu como mundial. 

Igualmente inovadora foi a outra vertente do nosso trabalho, a que diz respeito às cópias italianas mandadas executar por Angelo Colocci, já que o papel desempenhado pelos humanistas do Renascimento, nomeadamente os portugueses, na preservação da obra dos trovadores medievais é matéria tão central quanto esquecida, constituindo um vasto campo inexplorado, cujos segredos esta equipa se esforçou por começar a desvendar.